Sobras da construção civil podem ser recicladas e usadas no cultivo de plantas
Por: Gramas Guarujá - 25 de Agosto de 2024
Atualmente, cerca de dois terços dos resíduos sólidos gerados no Brasil são provenientes da construção civil, especialmente de demolições. Com isso, é importante encontrar uma solução para evitar que os restos sejam jogados de forma aleatória na natureza e acabem poluindo ainda mais o meio ambiente. Para evitar o dano ambiental, o pesquisador Marcos Canto Machado, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, em Piracicaba (SP), estudou formas de reaproveitamento desse material.
Apoiado na Lei 12.305 de 2010, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos, Machado realizou a pesquisa por meio da coleta de restos de construções de diferentes partes da cidade de Piracicaba, que fica no interior de São Paulo. “Parte dos resíduos é triturada e utilizada em obras de infraestrutura, como construção e recuperação de estradas, mas, infelizmente, somente uma pequena fração é direcionada a esse fim”, diz o pesquisador da Esalq. O estudo foi direcionado justamente para o restante dos materiais, formados por grãos muito pequenos. “Pelos aspectos físicos e químicos, tornam-se mais favoráveis ao uso em plantio”, explica Marcos Machado.
Além das sobras da contrução civil, também fazem parte do estudo de reaproveitamento de resíduos que contêm gesso – um insumo importante na agricultura e que colabora com a proposta do projeto. “Nos aterros, os resíduos de construção que apresentam gesso são uma preocupação ambiental, pois nestes materiais há substâncias [sulfatos] que podem atingir recursos hídricos ou formar outras substâncias tóxicas”, explica o pesquisador.
Quando triturados, os resíduos geram os chamados “agregados”: materiais que apresentam características minerais semelhantes aos de solos naturais, diferenciando-se apenas em relação à presença ou não de nutrientes, e na capacidade de retenção de água. “Antes de qualquer teste, avalio cada material, as substâncias contidas em cada amostra, a concentração de elementos tóxicos; verifico possíveis efeitos sobre organismos vivos e meio ambiente e avalio as propriedades agronômicas, a partir das quais consigo definir as correções necessárias dos materiais para serem eficientes no desenvolvimento de plantas”, esclarece Marcos Machado. Somente após todos esses procedimentos se consegue apontar a eficácia dos resíduos no suporte e nutrição das plantas.
A pesquisa demonstrou que é possível reutilizar e reciclar os resíduos da construção civil para o cultivo de plantas. O pesquisador da USP usou o material para ajudar no crescimento de uma gramínea conhecida como grama esmeralda. O resultado foi positivo e o vegetal reagiu muito bem ao substrato “artificial”, crescendo da mesma forma que faria num solo tradicional, rico em nutrientes.